terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pra sempre?

Quando a menina entrou aqui para ler o que eu tinha escrito por ela, depois de tantos meses, ela relembrou a dança e o chocolate que dividiram naquele dia, na festinha.

Não era isso que ela queria. Ela veio aqui para ler que o amor tinha morrido e que o mar levou tudo hoje de manhã. Mas ai eu dificultei a vida da moça - afinal, para isso servem os narradores-observadores: a gente sempre insere uma coisinha a mais na história pra ver se fica mais emocionante.
Porém, esta história não precisava de mais emoções. "Eu não vou aguentar", pensava a menina. Mas, o que ela não sabia, era que a história ainda não tinha acabado e que eu, a malvada narradora-observadora, havia reservado um final emocionante.

Muitas coisas aconteceram nestes meses em que a menina dançou com o rapaz na festinha e hoje. Houve viagem feita, viagem refeita, viagem aproveitada, viagem cancelada. Houve briga, reconciliação e amor, muito amor. Surpresas, passeios, praia, mar, piscina, meditação e muitas outras coisas eles fizeram ao som do Aqualung... muitos carpaccios e muito macarrão. E chocolate. E, na cabeça dela, eles eram felizes. Era o final feliz que eles tanto esperavam.

Mas o rapaz deixou o mal entrar. Um mal que causou muitos outros males. Mexeu amizades, mexeu amores, mexeu confianças e mexeu mágoas. As mágoas tomaram proporções gigantes e a menina não via outra alternativa senão deixar o mal se instalar e se afastar daquilo tudo. Ele estava lutando com todas as forças para que isso não acontecesse, mas ela, no fim das contas, tinha cansado. Ela simplesmente cansou de lutar.

E ela só foi perceber mais tarde que afastar-se do mal tinha feito um bem danado a ela. Ela ganhou dinheiro, conheceu pessoas, fez amigos, viveu sem tensão. Ela não sofreu, de verdade. Ela achava que a vida tinha melhorado sem ele. E, quando a noite vinha, ela sentia falta do abraço, às vezes, e quando o domingo chegava, ela sentia falta do banho de mar juntos, mas nunca havia derramado uma lágrima por isso. Na verdade, ela não sofria. "Já passei da idade. Sofrer por amor é muito anos dois mil...", pensava. E ela, realmente, não sofria.

 Mas, o problema não era nada disso. Ela tinha certeza que ele voltaria. Ela tinha certeza que ele ia perceber, mais cedo ou mais tarde, a merda que tinha feito. Ela tinha certeza - e os astros confirmavam - que tudo isso ia passar, e que, por mais loucuras que ele estivesse fazendo (falava-se à boca pequena que ele andava fazendo besteiras nos negócios e na vida), ele iria procura-la. Isso a atormentava. Mais cedo ou mais tarde, iria acontecer e, desde já, ela já brigava com seu bom senso. “Não posso, não devo...”, se martirizava. O problema era que, no fundo, bem lá no fundo, ela queria. E queria muito, e sabia que o certo era não ceder, mas não sabia se conseguiria. A menina – pobrezinha! – tentava compreender os sonhos, os avisos, a ligação, tudo. Ele havia deixado o mal entrar. E o mal tomou conta, montou morada, abriu rombos e buracos, e estava acabando com tudo de bonito que havia...
A menina não entendia nada, não entendia o porquê que suas vidas eram tão ligadas, tão conectadas...
Tinha apenas uma certeza: o mal ia ter fim.

Mas será que eles iam viver felizes para sempre?