Quando a menina entrou aqui para ler o que eu tinha escrito por ela, depois
de tantos meses, ela relembrou a dança e o chocolate que dividiram naquele dia,
na festinha.
Não era isso que ela queria. Ela veio aqui para ler que o amor tinha morrido
e que o mar levou tudo hoje de manhã. Mas ai eu dificultei a vida da moça -
afinal, para isso servem os narradores-observadores: a gente sempre insere uma
coisinha a mais na história pra ver se fica mais emocionante.
Porém, esta história não precisava de mais emoções. "Eu não vou
aguentar", pensava a menina. Mas, o que ela não sabia, era que a história
ainda não tinha acabado e que eu, a malvada narradora-observadora, havia
reservado um final emocionante.
Muitas coisas aconteceram nestes meses em que a menina dançou com o rapaz na
festinha e hoje. Houve viagem feita, viagem refeita, viagem aproveitada, viagem cancelada. Houve
briga, reconciliação e amor, muito amor. Surpresas, passeios, praia, mar,
piscina, meditação e muitas outras coisas eles fizeram ao som do Aqualung...
muitos carpaccios e muito macarrão. E chocolate. E, na cabeça dela, eles eram
felizes. Era o final feliz que eles tanto esperavam.
Mas o rapaz deixou o mal entrar. Um mal que causou muitos outros males. Mexeu
amizades, mexeu amores, mexeu confianças e mexeu mágoas. As mágoas tomaram
proporções gigantes e a menina não via outra alternativa senão deixar o mal se
instalar e se afastar daquilo tudo. Ele estava lutando com todas as forças para
que isso não acontecesse, mas ela, no fim das contas, tinha cansado. Ela
simplesmente cansou de lutar.
E ela só foi perceber mais tarde que afastar-se do mal tinha feito um bem
danado a ela. Ela ganhou dinheiro, conheceu pessoas, fez amigos, viveu sem
tensão. Ela não sofreu, de verdade. Ela achava que a vida tinha melhorado sem
ele. E, quando a noite vinha, ela sentia falta do abraço, às vezes, e quando o
domingo chegava, ela sentia falta do banho de mar juntos, mas nunca havia
derramado uma lágrima por isso. Na verdade, ela não sofria. "Já passei da
idade. Sofrer por amor é muito anos dois mil...", pensava. E ela,
realmente, não sofria.
Mas, o problema não era nada disso. Ela tinha certeza que ele
voltaria. Ela tinha certeza que ele ia perceber, mais cedo ou mais tarde, a
merda que tinha feito. Ela tinha certeza - e os astros confirmavam - que tudo
isso ia passar, e que, por mais loucuras que ele estivesse fazendo (falava-se à
boca pequena que ele andava fazendo besteiras nos negócios e na vida), ele iria
procura-la. Isso a atormentava. Mais cedo ou mais tarde, iria acontecer e,
desde já, ela já brigava com seu bom senso. “Não posso, não devo...”, se
martirizava. O problema era que, no fundo, bem lá no fundo, ela queria. E
queria muito, e sabia que o certo era não ceder, mas não sabia se conseguiria.
A menina – pobrezinha! – tentava compreender os sonhos, os avisos, a ligação,
tudo. Ele havia deixado o mal entrar. E o mal tomou conta, montou morada, abriu
rombos e buracos, e estava acabando com tudo de bonito que havia...
A menina não entendia nada, não entendia o porquê que suas vidas eram tão
ligadas, tão conectadas...
Tinha apenas uma certeza: o mal ia ter fim.
Mas será que eles iam viver felizes para sempre?
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Pra sempre?
sexta-feira, 20 de abril de 2012
A way out
A vida das meninas é muito complicada. Além de tudo o que já passam - menstruam, choram em filmes, quebram a unha, engravidam, tem que se preocupar com roupa e cabelo - ainda tem que lidar com a indecisão dos meninos.
Por isso, a narradora observadora deste blog decidiu ajudar as meninas e, por hoje, vai achar um rapaz para inserir nesta pequena historinha.
O rapaz do conto de hoje era o sonho de qualquer menina. Mais do que tudo, era um bom rapaz, um bom filho, e quiçá seria o bom marido que as mães sempre sonharam. O defeito? Era cobiçado por todas, exatamente pelos motivos acima. Aquela menina que estava pensando na varanda, no outro dia, o conheceu em uma festinha, através de uma amiga dos dois em comum. A conexão foi rápida - eles tinham muito em comum. Os dois haviam morado fora, falavam as mesmas línguas, gostavam dos filmes e livros e de viagens... de cara, já marcaram uma viagem pra Cuba. Quando seria, eles, claro, não sabiam, mas o desejo estava ali, no ar, com gosto de "quero ir, vamos agora?"
Eles riram juntos, conversaram juntos, dançaram, dançaram, dançaram... e claro, a vontade falou mais alto. "vamos dividir um chocolate?" E foi o melhor chocolate que eles dividiram na vida.
A cumplicidade foi ganhando espaço... eles se falavam todos os dias, se viam quando dava (os dois eram muito ocupados, gente), riam, riam, riam....
Ele era divertido, inteligente, envolvente... era sexy. E era lindo, o rapaz desta história. O jeito que ele falava era tão peculiar, que a menina às vezes esquecia do mundo e só pensava: "meudeusdocéu, como ele reparou em mim?" (sério, às vezes eu a via se perguntando). Quando ela o beijava, parecia que o mundo ganhava outra cor. um vermelho pecado, paixão, intenso, forte.... um vermelho almodóvar.
A menina vai entrar de novo com seus pensamentos na história, pois, afinal de contas, o rapaz apareceu aqui por causa dela. Ela o olhava e, jurava não saber como aquilo tudo estava acontecendo com ela. Realmente, a sorte havia lhe sorrido - ela só não sabia como sorrir de volta. Ele era um rapaz cobiçado e isso a assustava... (ela sabia o tanto de ciúmes que podia sentir de alguém). Além disso, havia tão pouco tempo para tanta euforia, tanta esperança... "tu és muito intensa, mulher", dizia ela a si mesma. Porém, duas coisas não saíam da cabeça confusa da menina: ela gostava do perigo. "que droga", suspirou. ela tinha se dado um prazo pras coisas acontecerem, e o prazo estava chegando ao fim. Ela não tinha a mínima ideia do que iria fazer, e isso a incomodava. Ela sempre tinha o controle das situações, SEMPRE. Dessa vez, o prazo estava chegando ao fim.... e ela queria saber o que fazer quando ele realmente acabasse. E se nada for como ela pensava que seria? E se o que ela tinha planejado não acontecesse? E se ele não ficasse com ela? E se o bonitão que ela pensava no outro dia, enquanto via a chuva na varanda, não chegasse à tempo?No fim do prazo, ela só queria um abraço. Um abraço que coubesse no dela.
O rapaz, por sua vez, pensava na vida que ele levava. Ele tinha uma vida agitada demais pra idade dele. "Quero me acalmar", ele dizia. Ele via a menina e nela, também via um porto seguro. Via coisa boas, via felicidade, inteligência (até demais). Pela cabeça dele - me disse uma vez que conversamos - passava o fato de que ela poderia lhe proporcionar boas coisas e um bom relacionamento - ela poderia ser a pessoa que ele tanto procurava.No final das contas, ele era, sim, cobiçado, mas queria um porto seguro pra deitar a cabeça no colo, quando o dia acabasse. Ou pra tomar café de manhã quando saísse da festa.
O rapaz lhe sorria e esperava sua reposta calmamente. E ela, só esperava que, no final, as coisas fossem bem clichés: ela queria o tal banco para se assentar. Era isso: ela não queria escolher entre esperar um amor e a comodidade de um amor: ela queria um final feliz.
domingo, 8 de abril de 2012
Esperando.
A menina olhava a chuva cair pela varanda da sua casa e pensava. E eu, mais uma vez narradora observadora, prestava atenção no desenrolar da história daquela menina, de olhar tão vago e cabeça tão cheia.
Ela pensava, pensava, pensava. Admirava a chuva com uma vontade de estar sentada rindo e pensando em como seria bom ter alguém pra estar admirando a chuva com ela. Ela não sabia o que tinha acontecido, porque ela, normalmente, não era assim. Ela era durona, sabe? Não era de ficar de mimimi.
Aquele rapaz tinha mexido com o juízo da menina. Às vezes, ela desejava não o ter conhecido, mas aí então ela colocava Roberto Carlos pra cantar todos os Detalhes deles dois e pensava no quanto todos os momentos haviam sido especiais.
O rapaz era aquele tipão alto, bonito, que de vez em quando vinha aqui no prédio. Eu, a narradora observadora, sempre o via chegar. A menina mudava a cara quando ele aparecia. Quando ele não vinha, era sempre o marasmo da rotina.
Ela continuava pensando enquanto a chuva caía. pegava o celular, devolvia pro lugar. Queria ligar, falar, mas não ia. Tinha se prometido ficar quieta a partir de então...
Ela ainda procurava o banco para se assentar...e dessa vez ela queria ter achado. E lá no fundo ela sabia que sim, era teimosa. E que estava sendo insistente até, quem sabe. Eu, a narradora, até diria que ela estava sendo ousada demais.
Mas a menina sabia até onde podia ir. Ela sabia o seu limite. E sabia que ele era caprichoso, e arriscava pensar até que ele estava com medo. Mas era só um palpite. Ela sabia, de certa forma, que ele pensava nela, também. Ela não podia confirmar, mas achava que sim, ela não estava sentindo errado. E ela tinha opções... e não os deixava seguir. Ela era cobiçada, a menina! Porque não sorria de volta para a sorte que chegava?
A menina levantou, apagou a luz da varanda e fechou a porta.
Eu, fiquei aqui torcendo de dedos cruzados pra esse amor, quem sabe um dia, florescer igual às florzinhas amarelas que amanheceram abertas na varanda dela nesta manhã.
quarta-feira, 14 de março de 2012
O amor aos 5 anos
Eu, descabelada, abro os olhos e olho o relógio: "putz, tô atrasada".
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Em trânsito
E a menina, mais uma vez, sonhava.
Era ela a andarilha, agora. E não havia achado um banco para se assentar.
Ela, sim, continuava em busca de um rumo. Logo ela, que tanto já viajara.... que tanto já conhecia do mundo. Precisava de um mapa. Mas parecia um mapa de tesouro - e o tesouro tinha sido escondido por um pirata.
Ela, com tantos carimbos no passaporte, não conseguia achar um simples banco confortável para sentar e ver a vida tomar seu curso normal.. Ela queria ver os comerciantes passando, os operários trabalhando, os velhinhos alimentando os pombos, os casais namorando.
Um único banco, em que ela pudesse, quando cansada, deitar, e olhar as estrelas e sentir a companhia de vários pontos de luz. Somente.
"Vai ser em um jantar", alguém disse a ela, um dia...
Será a cadeira alta o suficiente para que ela sente sem balançar suas pernas curtas e se sentir, enfim, segura?
Ela esperava que sim. Ela só queria se sentir segura. A cadeira nem precisava ser luxuosa. "Poderia até ser um banquinho de cimento", ela pensou. Em seguida, pesou se não estava se contentando com pouco - afinal, ela só queria sentar...
"Lover, you should've come over...", cantarolou Jamie. Ela, então, deu uma última olhada pela janelinha do avião. Reparou na toalha de mesa que parecia o mundo lá fora... "talvez eu precise me assentar em mim. E aprender a tricotar".
Pegou as malas, desceu do avião, olhou de novo pr'aquele mapa - imaginário - do tesouro, tentando colocar pegadas imaginárias que o levassem a ele, e teve a quase-certeza de que não ia ser dessa vez. (Nota da narradora observadora: ela esperava estar bem errada, nesse ponto).
E consolou-se, mais uma vez, na cadeira dura e desconfortável daquela sala de embarque.