domingo, 12 de setembro de 2010

Recomeçando

Ele empacotou tudo em duas malas grandes e não acreditava que a sua vida se resumia àquelas duas malas. Era difícil acreditar que ia embora, que ia mudar de cidade, de clima, de família, de amor, de amigos. Era complicado pensar que não ia mais vê-los, mas ele tinha certeza naquele momento que seu lugar não era ali. Precisava mudar. Alguma coisa dentro dele pedia pra ver mais coisas, viver mais um pouco, conhecer mais gente, falar mais uma língua. Sua alma não se aquietava, não conseguia. E logo, ele sabia que realmente, dessa vez, ele não voltaria nunca mais. Não sabia explicar, mas sabia que agra sua ida era definitiva.


Tinha tudo pronto na cabeça. Não sabia como faria para colocar em prática no dia-a-dia tudo o que pretendia, mas sim, tinha tudo planejado. Sua mania de perfeição não ia deixá-lo falhar, ele sabia que, no fundo, era um defeito chato, pois nem sempre tudo é perfeito, mas pode ser aproveitado. Tinha alguns dias pra fazer na cidade tudo o que ele achava que ia demorar um bom tempo pra fazer de novo. Queria se despedir dos amigos e das namoradinhas.

Era um homem de muitos amigos, portanto, iria demorar. A cada dia, se despedida de um bocado. Festas e mais festas, vida social agitada, bebida e comida. Muitas vezes, ao som do Bublé, ou não, né? Nesse intervalo, queria fortemente estar na companhia dos sobrinhos e da família. Tinha três sobrinhos, ele. Tinha um amor enorme pelos dois, como se fossem filhos de verdade. Não eram de verdade, mas com certeza eram no coração. Ganhou presentes dos amigos mais próximos e também deu presentes. Ia sentir tanta falta de tudo.... eles nem imaginariam o quanto. Nunca poderiam imaginar o papel deles na vida daquele homem, tão calejado pelos problemas da vida normal, mas forte o suficiente para saber amar cada um com suas particularidades.

Tirou um dia inteiro para se despedir só das namoradinhas. Um dia inteirinho! Ele não tinha todas essas namoradinhas, mas queria passar um tempo com cada uma delas. Ai, primeiro, ele resolveu almoçar com uma delas. Comeram, conversaram e se despediram normalmente. Um grande abraço e até mais.

A outra ele resolveu ir visitar em casa. Queria vê-la mais tempo, ele gostava muito dela. Já havia gostado bem mais no passado, mas ele ainda gostava de vê-la sorrir. Ela era alta e bonita, com cabelos escuros e usava aparelho nos dentes. Sentaram na calçada e passaram horas a fio conversando, aquele clima de tensão no ar, de beijo na boca. Ele queria muito beijá-la. Queria, mas não tinha coragem. E seguiram conversando, seus olhos fixos nela, na sua boca, na sua pele. Era realmente coisa de pele, ele gostava do cheiro da menina. Gostava do jeito que ela o via, achava que ela o olhava com um quê de “tira a roupa” e isso lhe causava frisson. Ele a achava bonita e sexy, mesmo com seu jeito desengonçado. Falaram, falaram, falaram e então ele resolveu ir. Deram um abraço apertado, bem apertado, tão apertado que ele tinha certeza que ela podia sentir o coração dele acelerado encostado nela. Ela o beijou no pescoço; ele queria beijá-la, queria muito mesmo, mas se conteve, pois tinha certeza que a fidelidade dela era importante, e ele não queria corrompê-la com seus caprichos. Por um momento, ele virou a cabeça, a fitou nos olhos e quase a beija. Quase! Mas resistiu, infelizmente. No caminho pra casa, pensou seriamente em voltar e dizer a ela para aproveitarem só mais uma noite, só mais um pouco, um único beijinho... mas seguiu rumo à solidão do seu quarto escuro.

O dia amanhecera diferente no outro dia. Era difícil dizer tchau, afinal. Faltava ainda uma menina a ser visitada, mas a vida foi mais engraçada. E ai, de repente, aquele amor estava lá, sentado na cama dele. Ela, que tinha sido o maior e mais recompensador de todos os amores, estava lá, na frente dele, esperando para lhe dar um abraço. Fez coisas inusitadas: estacionou, tocou a campainha e sentou na cama dele, meio à bagunça do quarto e aos amigos que o visitavam. Ele não conseguia tirar os olhos dela, ela era simplesmente linda! Conversavam sobre tudo, evitando qualquer outro tipo de assunto que não era a viagem. Ela olhava as fotos das cervejadas no mural dele e perguntava por amigos antigos, que ela lembrava, da época em que estavam juntos. Quando deu sua hora, ela levantou para ir-se. Ele a acompanhou até a porta e se abraçaram. Sua vontade era dizer a ela muitas coisas, era beijá-la e abraçá-la forte para que ela o convencesse de ficar, mas ele a abraçou algumas vezes. Ele sentia que ela também estava triste e queria dar-lhe um beijo, mas ele sabia que se a beijasse, ele ficaria mais triste ainda. Ele queria sim, dizer-lhe que ela havia sido o seu mais forte e verdadeiro amor e que agora ele continuava amando-a, mas agora era diferente. O amor era diferente, o carinho era enorme, a vontade de beijá-la era tremenda, mas ele sabia que de nada adiantaria. Ele queria muito ser seu amigo para toda vida e sabia que um beijo não cabia no momento. Nem um beijo de despedida. Ela casaria com outro mais adiante e ele se contentou em sentir que ela estava triste por vê-lo partir.

Subiu no avião com os olhos mareados lembrando de seus momentos. Ele, então, se despediu dos livros, dos discos, de alguns sapatos, de uma penca de amigos, da família, dos sobrinhos e levou no coração o amor de tudo e de todos, sabendo que agora recomeçaria em outro lugar na presença de novos amigos e na saudade dos que ficaram do outro lado do trópico e, quiçá, um novo amor, tão grande, intenso e recompensador como o que teve por aquela menina dos olhinhos verdes.

Tchaubeijomeliga! ;*


PS: Este é um conto. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência =P

3 comentários:

Rebeca Arrais disse...

ai meu coraçãozinho! *-*

Franck disse...

Sigo-a, para não perder o caminho daqui! Um bom fim de semana!

Junkie Careta disse...

Rafinha, Volta!!!
Depois volto com mais calma para ler texto(um texto seu!!!!)

Seu amigo retorna com o blog Junkie Careta e te convida para dar uma checada quando tiver um tempinho e deixar o seu comentário inteligente. No post, falo sobre o ser mais maravilhoso da face da terra, segundo uma famosa publicação Inglesa e também endossada por esse anônimo blogueiro metido a colunista cultural.